terça-feira, 3 de maio de 2011

21.04.11



Ele deleitava a sua boca em tabaco; dependurado na sua arrogância revestida pelo sobretudo moriniano, que lhe realçava uma elegância cuspida mas sábia.
A mim irritava aquele desprezo; mas naquele dia a egoísta era eu.
- Mas que coisa! As pessoas parece que cresceram ontem! Mas em que mundo é que vivem?!
Ele mergulhava em dopamina, olhando o cigarro, parecendo não ouvir.
- Nasceram! - Eu, cega, não ouvia.
- O quê?!
- "Nasceram ontem"! É o que se costuma dizer.
- É a mesma coisa! (Ele encolhe os ombros) As pessoas pensam que sou alguma criancinha?! Tenho 24 anos! Sou uma mulher!
(Encolhe os ombros segunda vez)
- Tens cara de miúda! Como queres que os outros te tratem?
Eu não pensei. Pensou a minha mão por mim, que atravessou o sobretudo até à sua Praça Principal.
O cigarro sobressaltou-lhe. O seu corpo tremeu. Ele sorriu.
- És mesmo uma mulher!
Nessa tarde fui uma mulher. Fui apenas aquilo que sou.